Empreendimentos residenciais começam a investir em espaços pet

Em quase metade dos domicílios do País (44,3%) há pelo menos um cachorro, e em 17,7%, algum gato. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revela a existência de uma população de cachorros em residências estimada em 52,2 milhões e de gatos, em 22,1 milhões.

Considerando apenas os cachorros, a proporção desses animais em lares no Centro-Oeste é ainda maior, estando presentes em 49,8% deles. Acima desse porcentual está apenas a Região Sul, onde estão em 58,6% dos domicílios. Já o porcentual de gatos por residência no Centro-Oeste é de 14,3%.

Tamanha população de animais de estimação tem influenciado o mercado imobiliário. Em Goiânia, por exemplo, os pet places - espaços destinados aos pets - têm se tornado mais frequentes nos empreendimentos lançados pelas incorporadoras.

Esse acréscimo, segundo o engenheiro civil Fernando Razuk, é motivado pela mudança de comportamento do consumidor, que “tempo atrás”, não avaliava o item como relevante. “Ano passado fizemos uma pesquisa e verificamos que hoje é muito valorizado porque houve uma mudança de comportamento do consumidor e quem gosta de pet trata ele como da família”, conta Razuk, que é sócio-proprietário da Somos Desenvolvimento Imobiliário. “Acreditamos muito nessa mudança do consumidor e foi demonstrado em pesquisa que tem valor agregado. Quem gosta de pet enxerga isso como um diferencial”, cita ele, que informa que em sociedade com a Partini e Emisa, a Somos lançará no próximo sábado (4) o primeiro empreendimento com espaço pet, o Elev Marista Design.

O projeto do empreendimento prevê a destinação de 44 metros quadrados para esse espaço, que terá, segundo Razuk, parquinho para animais, com brinquedos diversos e ambient</CW><CW-21>e para o pet caminhar, correr e se exercitar. Além disso, estão previstos porta sacos, que poderão ser usados para recolher dejetos, e bebedouros. “É cercado com portão, grade, para não ter risco”, complementa Razuk sobre o local, que ficará no quarto pavimento, o mesmo destinado ao lazer dos moradores.

Previsto para ser entregue em dezembro de 2022, o empreendimento, no Marista, apresentado como de alto padrão, terá 156 unidades e é o terceiro da Somos, que tem dois anos de mercado.

Popularização

Os espaços destinados a pets porém, também estão em empreendimentos mais populares, com unidades a partir de R$ 150 mil. É o caso de três lançamentos da MRV, que atua há mais de 12 anos no mercado em Goiás.

Com 25 empreedimentos já entregues na capital, a empresa lançou o primeiro com pet place em outubro de 2018, no Setor Perim, o Gran Vitta, que terá 320 unidades. O espaço pet, segundo o gestor Regional de Vendas da MRV Engenharia, Fernando Salomão, será gramado, fechado e com brinquedos de agility, túnel, escada. Além disso, terá bebedouro e equipamento para retirada de sacolas. Segundo ele, o espaço ficará no térreo, no mesmo piso da área de lazer do empreendimento. “Os clientes entenderam como uma conveniência (o espaço) e optaram por esse produto”, cita.

Ele informa que observaram via pesquisa com clientes haver uma grande aceitação sobre inclusão de espaço pet. “Sempre que possível, a partir de agora, tendo um terreno com espaço favorável, vamos incluir nos projetos da empresa. Até por questão de segurança”, diz Salomão. Em fevereiro a empresa lançou mais um empreendimento com pet place, o Gran Atlanta, no Jardim Novo Mundo e, em maio, ele informa que lançarão outro com esse espaço.

A presença de pet place no projeto do Gran Atlanta, no Jardim Novo Mundo, foi atrativo para a atriz Karyne Rozolfo, de 25 anos, e o marido, Fernando Rozolfo, de 30 anos, diretor de vídeo, decidirem pela compra de uma unidade no local. “Compramos no início do ano. Ainda não tinha a cachorra, mas já estava atrás para ter uma, pesquisando raça. Olhei mais a área de lazer. Meu esposo estava querendo mais casa porque pretendemos ter filhos futuramente, e como casa dá para ter cachorro mais a vontade, mais livre, estávamos quase desistindo do empreendimento, aí o pet place, (onde) posso levar sempre o cachorro para brincar, motivou fechar o negócio”, conta a atriz, que tem uma shitzu de 3 meses, a Lalita.

Além disso, ela diz que pesaram na decisão itens como segurança e localização do imóvel, que é próximo a casas de familiares. Mas ressalta: “outro tipo de apartamento, mas sem o pet place, ficaríamos em casa.”

Esse será o primeiro imóvel próprio do casal, que está casado há cerca de um ano. “Hoje moramos em apartamento em área super-restrita para a cachorrinha, que fica superlimitada e, como ela é bebê, ainda não pode fazer passeios por recomendação da veterinária.” Mas Karyne pretende, quando puder, levá-la para passeios e aproveitar o espaço pet do futuro apartamento. “Um cachorro feliz é mais sociável”, comenta.

Novo serviço atende maior demanda

“Os animais pets, de maneira geral, vieram para fazer parte dessa nova instituição chamada família, e hoje estão presentes em boa parte das casas. Então, para todos os empreendimentos, de maneira geral, não dá mais para não pensar nesses animais”, avalia o médico veterinário Antonio Carlos Carvalho. Ele cita que hoje, para se fechar vendas, os condomínios horizontais e verticais passaram a ter conhecimento da necessidade de não só permitir a presença dos pets no empreendimento como criar espaço próprios para eles.

E para ter esses espaços, o médico veterinário diz que o cuidado começa no paisagismo, na escolha de plantas não tóxicas para o caso de ingestão. Observação que ele diz valer para toda área comum do empreendimento. Além disso, ele diz que é importante pensar não só na parte estrutural, mas também na conscientização dos tutores e na definição de regras de convívio. “Teria que fazer um trabalho tanto para área comum quanto para o espaço de convivência (pet places), para proteção dos animais e do público em geral.”

Antonio diz ainda que os espaços pet tornaram-se algo que “não tem como não existir mais”, visto que cerca de 50% das famílias no País já têm um pet. “O empreendimento que não está pensando nisso, pelo menos 50% da possibilidade de venda pode não ser efetuada”, avalia ele, que diz que ter esse espaço específico para os pets seria um ‘plus’, apesar de não necessariamente atender a todos os tipos de bichos de estimação.

Diferencial

O publicitário Luis Fernando Pagliaro, de 33 anos, que tem um buldogue francês, de 3 anos, o Zeca, também avalia como um diferencial para o empreendimento uma área que o cachorro possa transitar com mais liberdade. “Onde moro tem uma área perto da piscina e churrasqueira, que poderia colocar ele pra correr, brincar, mas pelas regras do condomínio não posso. Sinto falta de um local controlado onde poderia soltar ele para correr sem o risco da rua.”

Luis Fernando e a mulher, a publicitária Gabriela Garcia di Carvalho, de 33 anos, moram há cinco anos num apartamento no Jardim Goiás. “Na época não tinha o Zeca. A gente tem conversado sobre (aquisição de) outro apartamento, mas bem início de conversa”, conta.

Hoje a rotina demanda três passeios diários com o buldogue, com duração média de 35 minutos em dois deles, e um de 10 minutos. “Com uma área no condomínio poderia ao menos reduzir o tempo do passeio”, diz. “Casa tem quintal, apartamento tem essa carência para o animal despender energia correndo sozinho, além do passeio que a gente faz. Seria mais um possível desempate para outros critérios. Teria um peso, não o mesmo que a planta e a localização, mas teria um peso.

Adaptação em residencial

Com 20 anos de existência e mais de 850 unidades construídas, o Residencial Aldeia do Vale, apesar da ocupação horizontal, está com projeto pronto para implantar um parque que prevê uma área reservada de 1.000 metros quadrados para os pets dos moradores. “Ainda não foi executado porque está aguardando liberação da Prefeitura. Vai ser executado com verba da associação. Vai ter bosque, pista de caminhada, lago, e o espaço pet”, informa Ovídio Palmeira Filho, diretor de meio ambiente da Associação dos Amigos do Residencial Aldeia do Vale (Saalva).

Segundo ele, a construção do espaço visa atender uma reivindicação dos moradores. “Parte dos moradores tem os pets, que só podem circular pelas áreas comuns acompanhados pelos donos e com coleiras. E no estudo desse parque reivindicaram um espaço fechado para os pets brincarem e que também tivesse equipamentos para exercício, treinamentos e brincadeiras desses pets. Seria um espaço fechado.” Ovídio ressalta que a área já está definida e agora só dependem da liberação da Prefeitura de Goiânia para iniciar as obras.

Moradora do residencial, a designer de interiores Lorenna Veríssimo, de 29 anos, diz que apesar de não integrar o grupo de moradores que fez a solicitação para construção do espaço destinado aos pets, sempre deu apoio para esse tipo de iniciativa. “Tem um ano que moro aqui e um adestrador sempre tocava no assunto. Quando me falaram (do projeto), fiquei superanimada com a iniciativa do condomínio”.

Ela e o marido, o médico Walter Sérgio Braga, têm um golden retriever, o Bruce, de 10 meses. Segundo Lorenna, Bruce começou a passar por adestramento quando estava com cerca de cinco meses. “Como vivemos num lugar que tem muita área verde, temos problemas com cobra, outros bichos, e nessa época de chuva se evita fazer adestramento nas áreas comuns, fica mais restrito em casa. E meu adestrador hoje tem que levar ele para lugar bem mais afastado, (em local) sem movimento de carro, para fazer o trabalho”.